Meu personagem infantil preferido

 
 

Um dos personagens que mais me traz recordações de minha infância é Jiraya, o Incrível Ninja, personagem de uma série de TV japonesa que fez sucesso no Brasil, nas décadas de 80 e 90, que foi um dos artífices do meu interesse, desde pequeno, por artes marciais. Jiraya tratava-se de um herói sem superpoderes, aspecto que me chamava muita atenção.

 
 

O melhor da infância por João Paulo

Bem, sou fortalezense, filho de uma família de marceneiros e costureiras oriundos de pequenos municípios do Ceará. Por influência deles, aprendi, mesmo sem tantas habilidades manuais assim, a criar alguns dos meus brinquedos. Será arte, será arte? Ou uma espécie de superpoder? Potência criativa infantil? Não sei. Só sei que eu adorava, por exemplo, fazer bonecos de madeira e com eles brincar horas a fio. Também sempre fui encantado por futebol e, por isso, tinha um fascínio por criar peças de “futebol de botão” para brincar com meus amigos, com quem também aprendi a fazer “pipa” (popularmente conhecida como “raia”, na periferia alencarina). Invenção: eis um aspecto que minha vida infantil me ensinou a experimentar. Hoje, curiosamente, a possibilidade de inventar (conceitos, conexões, intervenções, etc..) diz muito do meu trabalho. Continuando, cresci na periferia da capital cearense, entre os bairros Jardim Guanabara, onde moram meus pais até hoje, Jardim Iracema e Padre Andrade, onde moravam alguns dos meus familiares com quem mais convivi até entrar na Universidade. Sim, são lugares que alguns conhecem por seus índices expressivos de violência e, por isso, parte dos fortalezenses sequer se atreve a circular por lá. Contudo, as melhores recordações que tenho desse período infantil provêm desses cenários, em que não tínhamos tantos brinquedos pré-fabricados, mas uma gama enorme de brincadeiras, muitas delas executadas no espaço público, curiosamente sem os medos serializados da violência urbana. Lembro com alegria das cenas em que eu e vários primos, vizinhos e amigos de colégio nos encontrávamos pra tomar banho de chuva, brincar de “bila” na terra batida, de “travinha” com traves improvisadas, e de “peão”, nas ruas ou no quintal de uma das minhas avós, quintal que, aliás, sempre me pareceu enooorme (hoje vejo que enooorme era minha imaginação). Até hoje costumo voltar nesses espaços pra me oxigenar e me nutrir com os ensinamentos que seus moradores me dão. Não faz muito tempo que, já adulto, arrisquei tomar, por lá, um banho de chuva daqueles de lavar a alma e revigorar a vida. Alteridade: palavra estranha? Estranho seria narrar aqueles tempos sem mencionar as vivências do “altero”, nas idas e vindas por esses múltiplos espaços, vivências que me fazem, até hoje, um ser de fronteiras (na Psicologia então...), avesso a rótulos, com muito orgulho. Além desses registros urbanos, nas férias, era costumeiro irmos visitar meus avós e parentes do interior cearense, ocasião em que eu e vários primos fazíamos a festa, subindo em árvores, “tangendo” animais, brincando de “esconde-esconde”, “pega-pega”, “carimba”, vôlei e, pra variar, futebol. Encontros: sem eles, eu teria sido uma triste criança, por certo. Pois bem, “Invenção”, “alteridade” e “encontros”: eis as marcas vivas de um devir-criança que desejo potencializar em mim. Assim, nota-se que a infância de que lembro não remete tanto àquela tradicional cronologia, mas a uma figura, por assim dizer, aiónica, uma espécie de intensidade criadora e transformadora.

 
  e-mail  
  facebook

João Paulo

 
  Lattes

João Paulo Pereira Barros

 
______________________________________________________________________
 

Professor Adjunto I do Departamento de Psicologia da UFC – Campus de Fortaleza.

Graduado em Psicologia pela UFC / 2006.

Dissertação de Mestrado:Interações em um grupo de discussão sobre saúde: estudo do seu caráter mediador na constituição subjetiva dos participantes  PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA DA UFC / 2010 (bolsista CAPES).

Tese de Doutorado:Violência Infantojuvenil e o território da escola: O Bullying como analisador de processos de subjetivação contemporâneos. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ / 2014 (bolsista CAPES).

Voltar