Meu personagem infantil preferido

 
 

O personagem que escolhi foi a Jeanne. Com seus incríveis poderes de gênio, Jeanne tinha a capacidade de resolver tudo com um piscar de olhos.

 
 

O melhor da infância por Márcia Duarte Medeiros

Em Mesejana, ainda havia muito mato. As ruas não eram pavimentadas. Longas caminhadas nos levavam à escola. Um caminho percorrido com grande animação. Nele cabia o pega-pega, o jogo de bilas, uma voltinha no lombo de um burrinho e conversas ao vento. No Colégio das irmãs, eu era uma boa aluna. Cheia de criatividade para o gosto das freirinhas. Comportada até mexerem com minhas irmãs, principalmente a mais velha, hoje já falecida. E isso era bem comum. O que tornava a saída da escola uma aventura em que eu tinha que comparecer a brigas marcadas para defender-la. Até onde eu me lembro a coisa era assim: se passassem por uma de minhas irmãs e a olhassem diferente elas já perguntavam: o que foi e se queriam levar uma surra? O que normalmente acontecia no pátio externo da escola, longe das vistas das professoras. Era ativa e gostava de disputas. Foi assim que os garotos começaram a me chamar para brincar de pipa, pião, bola, esconde-esconde. Como eu era bem esperta e briguenta acabei levando para a adolescência o medo de alguns dos garotos. Principalmente de um, que chegou a ser namorado de minha irmã e tinha tido a cabeça furada por uma pedra lançada por mim. Quero que entendam, ele jogou uma pedra no meu irmão menor primeiro. Errou! Mas eu tinha boa pontaria. Então, quando o sangue escorreu a coisa ficou feia. Passei o dia rezando para ele ficar bom e principalmente para a mãe dele não vir enredar para minha. (Aí o bicho ia pegar!) Minha mãe sempre nos ensinou a resolver nossos problemas por onde andássemos. Então ela sempre dizia: "se apanhar na rua, apanha de novo em casa, para aprender a não arrumar confusão e se arrumar, saber sair dela". Na quinta-serie, eu ainda criança de todo, fui estudar no Dorotéias. Aquele foi um ano de grandes mudanças. Minha irmã mais velha e uma amiga brincaram mais que nunca. Elas passavam as tardes jogando vôlei, falando de paqueras. Eu fazia as lições de casa, e elas copiavam antes de dormir. E não pensem que eu não brincava também!Foi assim que as duas ficaram reprovadas. Passei as férias chorando e elas brincando. Não me imaginava sem ela na mesma sala. Minha mãe ficou irredutível. Por esta época elas já não queriam mais brincar das mesmas coisas que eu. Nem elas nem o povo da escola. Elas queriam paquerar, namorar e eu ainda achava que os meninos eram apenas bons companheiros das brincadeiras de aventura. Como já não tinha mais a companhia das meninas nas brincadeiras, passava estudando e lendo, nessa época virei rato da biblioteca. Em outras horas fazia roupinhas para Susie e a Barbie. Eu era boa nisso e todos da minha família achavam que eu herdara o talento de minha mãe para costurar. Em outras horas me divertia assistindo Jeanne é um Gênio, A Feiticeira e Perdidos no Espaço. Esse último, com certeza despertou meu interesse por tecnologia. Nossas férias eram sempre cheia de aventuras. Como nossa casa era muito grande. Na verdade um sítio cheio de fruteiras e bichos diversos. Os irmãos de minha mãe vinham de Belo Horizonte e Rio de Janeiro para as férias. Éramos ao todo 13 crianças. Assim, não tínhamos tempo para ficar quietos. Um sempre começava a brincadeira. Naquele tempo íamos todas as manhãs para praia. Isso, minha tia de BHZ não dispensava. O sonho dela era um dia vir de vez para o Ceará, comprar uma casinha na praia e lá morar. Ela faleceu sem realizar este sonho. Hoje, cada vez que entro em minha casa no Icaraí, me lembro dela. Como pulei o jardim e alfabetização e não repeti nenhum ano, acabei entrando na Universidade muito cedo. A escolha, embora antecedida por um teste de aptidão, foi feita na base do "mamãe disse que eu escolhesse esta..." Eu gostava de artes, matemática, ciências, história, geografia e tirava ótimas notas até quando não estudava. Foi assim que a binaridade humanas versus exatas se instalou de vez na minha vida. Alguns queriam que eu optasse, pois não era possível fazer tudo ao mesmo tempo. Fiz Processamento de Dados e logo no começo sabia que aquela não seria minha profissão. Como não gosto de começar e não terminar, conclui o curso e comecei a fazer Psicologia. Juntando os dois cursos hoje trabalho com Informática Educativa. Durante todo o tempo da graduação trabalhei na Varig/Cruzeiro. Onde com meus cursos de inglês, francês e italiano, além de uma boa aparência exigida na época, foi fácil conseguir um emprego de seis horas e passar o resto do dia a disposição da Universidade. Gosto de ler e assistir televisão (filmes antigos são meus preferidos). Jogar tênis e passar horas no computador. Ir a praia e a serra. Sair e ficar em casa. Olhar as pinturas do Monet, Degas, Rubens e do Bandeira. Adoro crianças e adolescentes mas convivo muito bem com os mais velhos. Como podem notar, escolher não é o meu forte e para complicar tenho mania de me aprofundar, de querer aprender sempre mais. Dessa maneira, da lógica binária, prefiro o comando AND ao invés do OR. Isso e aquilo sempre foram minhas melhores escolhas, talvez isso se explique pelo zodíaco, onde sou geminiana, com ascendente em gêmeos. Seja lá o que isso quer dizer. Parece que gosto de coisas demais e meu tempo é sempre pequeno. São muitas minhas almas, e para não ser superficial, aprendi a me concentrar e não entrar em dispersão. Mas creiam, isso não é nada fácil de fazer. Meus amores: Valter e Camila.

 
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Márcia Duarte Medeiros

 
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Graduada em Processamento de Dados pela UFC e Psicologia pela UNIFOR. Mestre em Psicologia e Doutora em Educação Brasileira pela UFC ( bolsista CNpq). Professora da UFC-Virtual.

Dissertação de Mestrado: Jogos de simulação de vida e subjetividade: a experiência de poder/controle entre jovens jogadores de the sims. PROGRAMA DE MESTRADO EM PSICOLOGIA DA UFC / 2006 (bolsista Funcap).

Tese de Doutorado: Jogos Eletrônicos, Mundos Virtuais e Identidade: O Si Mesmo Como Experiência Alteritária. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA DA UFC / 2013.

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